Medida tende a diminuir gastos de pessoas que moram no Entorno do DF e trabalham em Brasília com passagens de ônibus. Projeto ainda precisa passar pelo crivo do Ministério dos Transportes e Tribunal de Contas da União (TCU)
O mais novo aumento no preço da passagem das linhas de ônibus que fazem o trajeto entre o Distrito Federal e o Entorno da capital do país pesou no bolso daqueles que dependem do serviço de transporte público na região. Em contrapartida, uma proposta de integração dessas linhas semiurbanas pode ser a solução dos problemas de mais de um milhão de trabalhadores, que vivem esta realidade. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) aprovou um estudo técnico apresentado pela Associação dos Municípios Adjacentes a Brasília (Amab) que prevê a construção de uma rede que une os sistemas de transporte do DF ao semiurbano que liga a capital ao Entorno.
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Entre as propostas apresentadas no estudo técnico estão a inclusão do Bilhete Único do DF ao transporte do Entorno, assim como do Passe Estudantil e a integração com o Metrô-DF, além da promessa de melhorar a qualidade do transporte semiurbanos na região, a inclusão de exigências relativas à idade da frota em operação, a instalação de sistema de monitoramento e uma maior quantidade de viagens ao longo do dia.
O estudante Marcelo Aquino, de 19 anos, espera ansiosamente pelo início dessa integração. Segundo o jovem, ele precisa de deslocar para o Plano Piloto para ir ao estágio, diariamente. Sem a integração, gasta R$ 19,70 por dia. "É muito triste e pesado para os usuários. Eu estava falando com um amigo e ele me informou que o pai dele tinha sido desligado da empresa a qual trabalhava por causa dessas aumentos desenfreados", desabafou.
O presidente da Amab e prefeito de Águas Lindas de Goiás, Hildo Candango, garante que o projeto tem o objetivo de baratear o custo das viagens. "No estudo que foi apresentado existe a proposta, por exemplo, de um BRT (Bus Rapid Transit) que sairia de Águas Lindas, passaria pelo Setor O (Ceilândia) e chegaria ao Plano Piloto, através da via Estrutural, usando uma via exclusiva", afirmou.
A jornalista Ana Paula Figueiró, 22 anos, mora no município de Girassol (GO) e, segundo ela, em uma viagem de ida e volta para Brasília, ela gasta R$ 13,40. Com o novo reajuste, Ana diz que visitar os amigos em Taguatinga ficou em segundo plano. "É inviável. Já é difícil para mim bancar esse valor para ir em consultas médicas ou para a faculdade, imagina para passeios", reclama.
"Além de ser uma tarifa alta, os ônibus são de péssima qualidade. Raramente vemos ônibus novos nas ruas e como os horários são bastante espaçados, muitas vezes preciso ficar na parada esperando por mais de uma hora", desabafa a comunicadora.
Para o especialista em política pública de transporte, o professor do Centro Universitário Estácio, Arthur Morais, o projeto de integração é viável e necessário. “A gente vive em uma região de limite de território, mas a relação de empregos e negócios não levam em conta isso. O deslocamento é integrado”, acredita.
Segundo Arthur, a racionalização do sistema do Entorno com o DF reduzirá custos e tarifas. “Esse tipo de integração acontece em toda parte do mundo. Espero que isso saia o mais rápido possível. Temos um problema de tarifa, quanto mais longe as pessoas moram, mais caro fica”, afirma.
A redução do custo de transporte, diz Arthur, deve gerar mais emprego de moradores do Entorno no DF. “A questão da mobilidade dará solução em dinheiro e em conforto. A proposta do BRT, por exemplo, pode ser facilitada através dos corredores desse tipo de transporte que já existem em Brasília”, defende.
Próximas etapas
Em nota, a ANTT afirma que, após a aprovação da diretoria, a proposta segue em fase de trâmites burocráticos, "necessários para a futura submissão dos estudos a processo de participação e controle social". Após isso, a população poderá apresentar sugestões ao projeto, através de audiências públicas, ou pelo site da agência. Em seguida, a proposta seguirá para o Ministério dos Transportes e o Tribunal de Contas da União (TCU), para que seja publicado edital de licitação.
Procurada pelo Correio, a Secretaria de Mobilidade do DF afirmou que, em conjunto com o DFTrans, já está trabalhando com a ANTT para melhorar a integração entre o DF e o Entorno. "Entretanto, é importante ressaltar que as linhas do Novo Gama e Luziânia já fazem a integração no terminal de Santa Maria", ressaltou em nota. Segundo a pasta, os passageiros que saíam de Luziânia chegam a pagar até R$ 10,85 para chegar a Brasília. Com esse sistema, o custo cairia para R$ 7.
Reajuste na tarifa
Em 16 de fevereiro, a ANTT aprovou reajuste dos bilhetes do transporte rodoviário semiurbano interestadual e internacional de passageiros. A maior alteração foi a do trajeto entre Mansões Marajó, em Cristalina (GO) para Brasília. Neste caso os bilhetes vão custar R$ 7,80, o que significa um aumento de R$ 0,50.
No primeiro dia útil do novo valor, o presidente da Federação do Comércio do Distrito Federal (Fecomércio), Aldemir Santana, afirmou ao Correio que o Plano Piloto recebe, diariamente, quase 1 milhão de trabalhadores e que "as passagens interferem tanto nas despesas diretas dos empregados quanto no custo das empresas, que bancam esses aumentos". Segundo ele, até o preço final dos produtos pode sofrer impacto.